Encontros.
Ela caminhava pela rua.
Ela procurava alguém.
“Ora, tu não procura alguém! Tu procura ele! Seja menos difícil, menina! Olha para todos
esses que te apresentei, que se interessaram, qualquer uma estaria realizada
com isso!” – sua melhor amiga havia dito a ela a alguns minutos.
Agora ela caminhava
pela rua. Esperava que o vento mexesse em sua mente, refrescasse seus
pensamentos.
Ela não era tão difícil assim. Obvio que não. Só que todos
esses a quem era apresentada não eram tudo aquilo.
“Meu deus, amiga! Acorda! Eles são lindos, queridos, tem uma
conversa boa, um sorriso lindo.. Oque mais tu quer?”
Ela encontra um banco e senta.
Certo, talvez eles fossem sim alguma coisa, quem sabe até
algo bem perto de tudo aquilo. Mas tudo aquilo não eram. Não podiam ser.
“Mas esse aí é tudo aquilo e até, quem sabe, mais”
Mais um desses meninos tudo aquilo vinha chegando.
Realmente, ele era lindo, tinha um sorriso lindo, um rosto de garoto bem como
ela sempre fala que acha uma graça e os olhos dele brilhavam com a luz do sol.
Era apenas mais um daqueles. Mais uma tentativa da amiga.
“Tá, agora vai que tu tem um encontro. Não me decepciona!”
Quanto mais perto ele chegava, maior era o sorriso no seu
rosto.
Ela o olhava chegando, e aos poucos, foi vendo uma outra
pessoa no lugar dele. Viu o cabelo escuro sem penteado. Viu os olhos castanhos
profundos. Viu aquele sorriso brincalhão e as piadas sem graça. Viu o gosto
musical estranho, mas que ela gostava demais. Viu aquele olhar que só ela
entendia. Viu todo o passado, presente e futuro. Pelo menos, dentro dela. Viu aquele
garoto que tinha imperfeições, mas isso o deixava ainda melhor. Ela via... Ela
via ele.
Sentiu seu coração bater rápido, seus olhos brilharem e um
sorriso bobo brotar em seu rosto. Teve vontade de sair correndo e abraça-lo,
mas quando se levantou e olhou novamente para ele, ela viu. Ela viu oque ela
não viu. Ele não estava mais lá. Quem estava lá era o garoto mais lindo que ela
já tinha visto, com o sorriso de propaganda de pasta de dentes e com os olhos
mais bonitos ao sol, caminhando em direção a ela. Mas não era ele.
“Por favor amiga, faz esse favor por ti mesma, dá uma chance
pra ti”
Ela tinha visto ele. Mas isso seria impossível. Agora era o
outro. Sua cabeça havia dado um nó. E a realidade, um chute. Seus pensamentos
estavam enchendo sua mente, estavam transbordando pelos seus olhos e ouvidos.
Talvez o vento havia apenas embaralhado todos, ao invés de refresca-los. Estava
tudo trocado, ela estava confusa e ficou enjoada. Sentiu vontade de chorar,
mas, quando olhou de novo, o garoto tudo aquilo estava parado em sua frente,
com um sorriso de orelha a orelha.
Ela via a boca dele se mexer, mas não ouviu nada. Ela queria
dar oi ao menino, ser educada. Mas era tudo tão errado. Ela não queria aquilo,
ela não queria mentir para si mesma que estava bem quando não estava. Não
queria iludir aquele menino. Ela só queria ir embora, deitar na sua cama,
pensar um pouco.
“Você pensa demais! De vez em quando, você tem que agir
logo, sem pensar!”
A voz da amiga ecoava na mente dela. Como se ela já não
estivesse barulhenta demais.
Mas não. Já chega.
Ela agia com o coração antigamente, e foi isso que a levou a
ser desse jeito. Agora ela age com a cabeça. Virou para o garoto tudo aquilo e
disse claramente “desculpa, não estou me sentindo muito bem.. a gente se fala
depois?”
O sorriso do menino desapareceu. Ele concordou com a cabeça
e perguntou “você está bem?”
As lágrimas tomaram os olhos dela, que respirou fundo, disse
“Não” e saiu andando rápido em direção a sua casa. Mais um ficando pra trás,
mais um garoto perfeito perdido, mais uma razão pra sua amiga desistir dela,
mais uma confusão na sua cabeça. E tudo isso por causa de o que? De uma ilusão
infantil de um garoto idiota que de nada acrescentou na sua vida.
“Você ainda o ama”
Ela tentou engolir o choro e tentou engolir esse fato mais
uma vez.
Não conseguiu.
Ela caminhava pela rua.
Ela procurava ele.