sábado, 11 de fevereiro de 2012

Eram 20h17min e passava um pouquinho do minuto em que a casa silenciava. Na verdade, silenciava apenas para Aurora. Havia alguma coisa magica nesses 30 minutos que parecia que todos se esqueciam dela. E isso era ótimo. Mas ela fazia o máximo para garantir essa solidão, desligava o celular, certificava se os pais estavam cuidando de seu irmão menor e ia para o banco do jardim, que, naquele momento, o carro da família estava estacionado no lugar exato para que ninguém a visse deitada no banco. Ela tinha 30 minutos, mais ou menos, até que alguém notasse sua falta. Aurora saiu pela porta dos fundos, as lágrimas já lutavam em seus olhos. Mas ela as engoliu e ainda falou que já voltava e seguiu em silencio até o banquinho do jardim. No momento em que ela sentou, as lágrimas aflitas saíram. Ela estava exausta. De tudo. Como com apenas 17 anos ela tinha a sensação do mundo desabar ao mesmo tempo em que ele estava equilibrado em suas costas? Será que piorava com a idade? Ela não queria nem pensar. Ela havia falhado. Mas no que? No que? Seria mais fácil perguntar no que não havia falhado. Às vezes parecia que era em tudo. Às vezes parecia que era em metade, mas normalmente parecia que era em quase tudo, pois ainda tinha seus amigos e seu irmão menor, que pareciam serem os únicos. E ainda tinha suas músicas. Mas isso não era tudo. A música podia aliviar, a fazer mentir para si mesma, mas seu coração ainda estava vazio. Seu coração não estava mais ali. Havia sido levado por ele. Ela olha para a palma da sua mão. Ela sabia que não devia fazer isso, pois isso sempre traz uma lembrança a ela. Ele. Há uns meses atrás, ele pegou a sua mão e a pôs no peito dele – tá escutando? – ele perguntou a ela, ela assentiu. O coração dele estava disparado, ela lembra os olhos dele sorrindo e conseguia ver seus olhos brilhando através do reflexo do olhar dele. Havia acabado de acontecer o inesperado, e ela nunca poderia estar tão feliz na vida dela. Uma lembrança para sempre guardada. Na palma da sua mão. Que agora estava aqui, fazendo parte da solidão das oito e quinze. Um sorriso havia aparecido em seus lábios e seus olhos, ela podia sentir, estavam brilhando, do mesmo modo como ela os viu no olhar dele. O olhar dele. As lágrimas lutaram de novo. Ela tentou combate-las, mas afinal, eram oito e quinze e ela podia. Ela chorou. Do mesmo modo que se permitiu chorar nos últimos quatro meses. Havia uma força dentro dela que queria parar de chorar, mas havia outra que não permitia, e ela era mais forte. Aurora tinha medo de ser assim sempre, não queria chorar todo dia para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário